sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma sala escura. Apenas uma luz fosca em cima de uma pequena mesa redonda. Dois espectros, sentados em cadeiras dispostas uma de frente para a outra, iniciam um diálogo:
Fidelidade: antes de iniciar nosso diálogo, gostaria de lembrar-te que somos irmãs, separadas apenas e tão somente por um prefixo de negação. Creio, portanto, que chegaremos a um consenso.
Infidelidade: você e essa mania insípida de entendimento, esse medo inato do choque. Não podemos simplesmente conversar?
Fidelidade (indiferente): só achei importante ressaltar…
Infidelidade: julgo seu discurso fraternal como uma boa forma de introdução. Responda-me uma dúvida: por que, afinal de contas, você tem essa necessidade de manter tudo sobre controle? Concluo que por esse motivo você não serve aos seres humanos: eles pensam que controlam tudo, mas não controlam absolutamente nada. Por essas e outras, sou uma opção muito mais adequada ao modo de vida deles.
Fidelidade: por favor, não entremos no mérito do caráter humano. Vejo-me como uma escolha. Se existe um casamento com a disposição de divisão, doação e comunhão não existem motivos para que o casal esconda nada um do outro. Reitero: não sou uma regra, sou uma opção. A relação só é válida se a verdade prevalece. Esconder uma traição é mentir a si mesmo e à pessoa que você diz amar. Uma relação baseada em mentiras simplesmente não é uma relação, é um embuste. Após uma traição, cedo ou tarde, o pacto de intimidade e cumplicidade desmonta feito um castelo de cartas. É o começo do fim inevitável!
Infidelidade (ríspida): você e suas regras estúpidas. Por que citou o casamento? Só depois de assinar uns papéis e fazer uma cerimônia fora de moda é que as pessoas têm a necessidade de serem verdadeiras umas com as outras? Acho que o jogar limpo deveria ser uma regra absoluta desde o primeiro encontro. A vida, entretanto, não é simples nem justa. De tanto eles jogarem limpo, acabam se sujando. Por isso, continuo como a melhor das opções. Os seres humanos precisam esconder seus absurdos uns dos outros.
Fidelidade (indignada e irônica): Meu Deus, é um caso de bipolaridade! Quer dizer que não concorda com sua natureza, mas a enxerga como a mais adequada, é isso?
Infidelidade (fria e falando baixo): não sou bipolar, sou prática, pé no chão e realista. Tenho consciência de que relações se desgastam, as pessoas se entediam uma com as outras e precisam buscar válvulas de escape. Admitir uma traição é um erro, já que o ego destroçado do ser humano não resiste ao fato de que seu parceiro está dividindo o leito com outros. Essa verdade, apesar de nobre, destroça a relação, o traído e o próprio traidor, que se remói em culpa da mesma forma. E você aí, vivendo em um mundo de fantasias…
Fidelidade (desolada): você não se sente péssimo pelo fato de no fundo ser contrário à sua própria natureza? Você é uma romântica de merda e sabe disso.
Infidelidade (serena, acende um cigarro): não tenho motivos para me sentir péssima. Eu sou um amparo à miséria humana. A traição é um traço intrínseco deles e deve sim ser acompanhada pela falsidade para que as relações não fracassem. Sem o trinômio mentira, hipocrisia e traição seria impossível constituir uma família.
Fidelidade (pede um trago do cigarro): Não acho. Existem pessoas que se conscientizam das dificuldades de se dividir uma vida a dois e fazem da verdade e da honestidade a principal marca da relação. Duas pessoas que realmente se amam não podem mentir uma para as outras, por mais que doa. A verdade sustenta o amor. Sem ela, o amor não existe.
Infidelidade (arranca o cigarro da mão da fidelidade e desdenha): esse casal que você está descrevendo perderia a libido um pelo outro cedo ou tarde. E, desculpe, mas você sabe que entre as pulsões do inconsciente humano o sexo é tão fundamental quanto a fome e, para agravar o quadro, as relações abertas estão fadadas ao fracasso. O ser humano é possessivo, mas gosta de perversão, gosta de ter na cama uma pessoa por quem sinta amor e ódio. E é egoísta, só ele tem o direito a esse pequeno delito, o parceiro não. Eu, rondando a situação sem ser notada, alimento o amor e todos ficam felizes.
Fidelidade (dona de si): acho que você chegou a um ponto interessante. Presumo que a razão de suas forças serem maiores que as minhas consiste no fato de que as pessoas nunca terminam se relacionando com aquelas que verdadeiramente amam. Vou tentar explicar. Um homem ama determinada mulher. Ela, por sua vez, não o ama. Ele se humilha, declara seu amor e sofre sem ser recompensado. Desiste e acaba se relacionando com outra mulher apenas para fugir de seu antigo e eterno amor. Acho que grande parte dos casais não se ama e por isso é infiel. Se você realmente ama uma pessoa, não tem vontade de traí-la; se tiver vontade, a reprime, e se não reprime, revela a verdade e agüenta as conseqüências. Logo, sua natureza, cara infidelidade, é o puro resultado da falência do amor. Não me venha com essa bobagem de que é você quem o alimenta.
Infidelidade (confiante): é a velha lei da balança: em uma relação um sempre vai gostar mais do outro. Essa disparidade, que é o padrão humano, desequilibra a situação. Aí que eu entro para salvar tudo. E o melhor: por baixo dos panos, em silêncio. O ser que não ama verdadeiramente a sua parceira complementa suas satisfações com amantes e consegue manter uma relação minimamente estável. O ser que ama, por outro lado, vive conscientemente iludido e fantasia que tudo está bem. Sou o peso que equilibra a balança. Sem mim, seria o caos. quer mais? http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=81626101&tid=5428574723535473326&na=4 dee uma olhada nesse topico da tsuki hi no orkut

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